domingo, 3 de abril de 2011

Sejam bem vindos!! Na primeira postagem, quero começar contando qual a intenção do blog. Abordar alguns temas trabalhados em consultório com meus pacientes, temas das palestras, experiencias minhas que possam contribuir com o cotidiano de cada um a entender e talvez superar as suas dificuldades. Mas primeiro é preciso entendê-las!

Um paciente me relatou que começou a participar de corridas de rua de 5 quilômetros, contando-me com detalhes de como elas funcionam. Ele relatava que em determinado momento da corrida ele cansava demais e sintomas de ansiedade apareciam, muitas vezes o impedindo de completar o trajeto. Para quem nunca teve uma crise de panico, a certeza da morte e a pequena depressão que precedem a crise são os piores momentos, além dos sintomas físicos e seus desconfortos como taquicardia, sudorese nas mãos, tremores, aumento da motilidade intestinal, etc, ou seja, um grande desconforto instalado através de varias reações corporais.
Uma pessoa ansiosa, pode ter sua crise desencadeada por vários fatores. Nesse caso, esse paciente estava viajando de carro. Não era sua primeira crise, mas nitidamente já não as aguentava mais.
Pontuei a ele a relação que havia entre as corridas e a ansiedade. Quando vamos trabalhar, correr atrás das nossas vidas, buscando nossas felicidades ou lutando para ter nossas contas pagas, é a nossa largada. Batalhar o cotidiano, lidar com pequenas frustrações e alegrias faz com que possamos ir ganhando experiencia de vida. As pressões, cobranças no trabalho, família, são varias as demandas que temos que nos desdobrar para darmos conta. Com meu paciente não era diferente. Ou seja, ele estava percorrendo o quilometro 1. Há energia sobrando e uma confiança certa que completará a prova no melhor tempo possível.
Com o passar do tempo, passou a sentir-se sufocado por situações que não conseguia mudar. Ele não mudava e não via como mudar seu comportamento. O sentimento de impotência, incompetência era cada vez maior. Para ele, é como se a vida transcorresse em círculos. Ele estava no quilometro 2, um pouco mais cansado, mas pensando que a respiração vai ficando pesada e o cansaço se aproximando.
Para tentar algo novo, resolve se distrair e sair para uma pequena viagem de carro e no trajeto, tem simplesmente 3 crises de panico consecutivas...aquilo para ele era o ponto final. No dia seguinte ele vem ao consultório.
Ele estava no 3,5 Km. O momento que ele não vai chegar no final, a frustração tomou conta, o desgaste é grande, e a decisão por parar e tentar uma outra vez parece ser a mais acertada. Mas sabe também, que terá de lidar mais uma vez com o sentimento de impotência e incapacidade. O que fazer se não aguento mais?
É a hora de diminuir o ritmo, buscar folego, pegar água no ponto de hidratação, ou seja, ele vai decidir se arrisca ou para. Quando o ritmo é diminuído, e o folego vai sendo retomado, vem a sensação de que chegar pode ser possível. De que não foi vencido por aquele momento. A crise de panico não pode me parar. Quando ele reduziu a velocidade, procurando a terapia, pode perceber o quanto sua vida estava em um ritmo errado, se preocupava somente com os outros, acolhia a todos, dedicava sua vida as pessoas que o cercavam, exigia grandes retribuições por seu enorme esforço de agradar ao outro, tudo tinha prioridade, menos ele mesmo. Trabalhávamos na sessão o ser um pouco mais egoísta e que a ansiedade pode ser um alarme tocando nos mostrando de que ultrapassamos limites, os nossos limites e que se não fizermos nada a ansiedade vai nos parar.

A medicação passou a fazer parte do seu cotidiano, o autoconhecimento e principalmente o amor próprio foram ganhando espaço na sua vida, conseguindo dedicar mais seu tempo as atividades que queria fazer, o que lhe trazia mais prazer, ter mais satisfação em sua vida.

Nota de rodapé nº1: Se não formos prioridade para nós mesmos como conseguiremos dar conta de nossas vidas? Ser prioridade, ter amor próprio é o mais importante, e em muitas vezes nas crises ansiosas, elas aparecem podendo nos sinalizar esta situação. Está nas nossas mãos decidir se vamos continuar a corrida ou não, desde que eu me perceba, que eu me veja!

Atualmente, ele está saindo da medicação, se conhecendo melhor, tendo mais consciência de quem ele é e do quanto importante ele tem de ser para ele mesmo, atento a quando estará extrapolando seus limites. Em vários momentos ele retoma a estória dos 3,5 Km, para mostrar a ele mesmo, que ele pode cansar, achar que não vai chegar, mas se diminuir o passo, tomar folego, e focar qual é seu objetivo, tudo se torna possível.
Milagrosamente ou não, como ele fala, as crises não apareceram mais, está com um trabalho mais sólido e está em um relacionamento mais seguro, onde principalmente sente-se mais feliz, ou seja, está quase completando a corrida, vendo a chegada, sentindo a medalha no seu peito, mas principalmente, sabendo que ele é capaz de poder superar suas dificuldades, simplesmente tendo mais amor próprio, cuidando mais de si.

11 comentários:

  1. Muito Bom, continue compartilhando conhecimento André!!!

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  2. Adorei, até porque ajuda a nós mesmos. Podemos compartilhar o que sentimos e as vezes passamos por várias dificuldades e nem tomamos conta disso.

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  3. Gostei muito de ler!
    Vou esperar mais :)
    Beijo

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  4. Obrigado pela visita e pelos comentários!!
    Ainda nessa semana mais uma postagem...quero ve-los de novo por aqui!!!

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  5. Parabéns colega! Quando der, dê uma olhadinha no meu... Beijos Ale.

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  6. Baah até da um alívio ler isso hauhuahua..
    obregada!

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  7. Excelente texto. Pela primiera vez tive a oportunidade de entrar aqui e achei ótima a iniciativa do blog. Com certeza vc ajudará muitas pessoas.
    Grande abraço,
    Suelen.

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  8. Me vi nesse texto. Me sinto exatamente como este homem várias vezes. Também cheguei a um ponto onde não me achava mais. A maioria das vezes me sinto assim, correndo sempre, sem chegar em lugar nenhum. Estar tão perto de conseguir mas sem poder alcançar por maior esforço que se faça. Hoje como paciente do Dr. André , tenho tentado percorrer estes kilometros mais devagar. Para algumas pessoas pode parecer banal porém para nós que estamos nessa corrida a luta é constante até entendermos qual o nosso limite, até onde podemos ir e sair inteiro, sem feridas abertas ou mal cicatrizadas para podermos apenas ser e estar em paz conosco mesmo.

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  9. Gisele, obrigado pelo comentário. Voce está caminhando para seu desenvolvimento a passos largos de forma sólida, como alguém que sabe onde quer chegar. Parabéns!

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