quarta-feira, 20 de abril de 2011

Entendendo sobre a Síndrome do Ninho Vazio

Para entendermos o que é a questão do ninho vazio, necessitamos recorrer a um termo junguiano chamado persona: máscara de ator. O papel social do indivíduo, derivado das expectativas da sociedade e do treinamento nos primeiros anos da vida. Um ego forte relaciona-se com o mundo exterior através de uma persona flexível; a identificação com uma persona específica (médico, professor, artista, etc) inibe o desenvolvimento psicológico. Portanto, com a definição de persona, podemos entender um pouco mais de uma frase que inicia a explicação do conceito do ninho vazio: “A síndrome do ninho vazio – tédio e depressão quando os filhos se emancipam e abandonam o lar- denuncia a superidentificação com a persona do papel parental e pode ocorrer em homens e mulheres.”
Portanto, a identificação com o papel de responsabilidade pelos filhos, faz com que o entendimento pela emancipação se torne de muito difícil aceitação. O ninho vazio remete a imagem de um pássaro que cuidou de sua cria, e de repente se vê abandonado por ela, como se essa cria não tivesse o direito e a necessidade de crescer, desenvolver, e partir para ter suas próprias vivências, com distância da sua família de origem. Para alguns pais ou responsáveis, esse afastamento tem um sofrimento muito específico, muito diferente de uma aceitação natural. Esse sofrimento específico é o sentimento do ninho vazio.
Esse sofrimento vem representado pelo tédio e depressão, mas alguns sintomas físicos também podem aparecer nesse momento, o que entendemos como reações psicossomáticas: Infecção na bexiga (associado a dificuldade de desapego), dores no joelhos (associado a humildade), manchas na pele ou psoríases (associado ao contato e carinho, que fica entendido como a partir daquele momento como um distanciamento).
Há também os aspectos simbólicos. O ninho enfatiza o aspecto maternal, protetor e de espaço para acolhimento. Jung usou a mitologia grega para explicar os padrões de comportamento da humanidade, e a representante deste padrão maternal é a deusa Deméter. O termo meter significa mãe. Esse padrão de comportamento vem representado pelo instinto maternal desempenhado na gravidez ou através da nutrição física, psicológica ou espiritual nos outros. Mãe é a que cuida, nutre, protege, alimenta, acolhe. Uma mulher, tomada pelo padrão de comportamento de Deméter, cuidará não só dos filhos, mas de todos. É aquela que vive rodeada de crianças, aquela que cuida da alimentação de todos, aquela que sabe onde estão os objetos perdidos dentro da casa, a que cuida dos doentes, etc...
Há também o perfil de uma Deméter dominadora, que são as que mantém os filhos perto dela a qualquer custo, gerando os “filhinhos da mamãe”, pois ainda sofrem a dominação. Quando o filho casar, por exemplo, não é incomum os desejos da mãe serem atendidos em detrimento ao desejo da esposa.
Mães que tenham o perfil da Deméter dominadora, sofrerão mais com o abandono do lar pelos filhos. Os filhos poderão tentar manter-se distantes, inclusive geograficamente e também emocionalmente dessa mãe. Agem assim, de forma inconsciente, quando a mãe os fez sentirem devedores, culpados ou dependentes.
Se lembrarmos do mito de Ícaro ( que tenta voar com as asas construídas por seu pai Dédalo, que o avisa para não voar nem tão próximo ao Sol e nem tão próximo ao mar, pois poderia cair, e Ícaro o desrespeita, caindo e morrendo), podemos entender como funciona o ninho vazio nos homens.
A partida desse filho é menos sofrida e o padrão de comportamento é tomado pela postura do aconselhamento. Alguns homens mais tomados pelo sentimento do que pela razão, podem ser acometidos do sentimento de perda, podendo se mostrar mais depressivos, isolados, mas sem deixar de aconselhar.
Para finalizar, algumas mulheres, podem se sentir exploradas e improdutivas diante do ninho vazio, mas existem formas de canalizar esse sofrimento de maneira construtiva. Aprender a expressar a raiva pela perda, reduzirá a depressão. Aprender a dizer não evita tornar-se mais esgotada e deprimida por ter sido “explorada”. Aprender a “abrir mão e deixar os filhos crescerem” poupa-lhe a dor de ter filhos e precisar se libertar deles. Uma outra possibilidade, para uma Deméter solteira, é arriscar-se em um outro relacionamento, como outra forma de não sentir-se mais angustiada e poder atuar novamente tentando dominar os filhos.

4 comentários:

  1. estou adorando ler seus textos, "buenisímos"..!!

    parabéns pela iniciativa!

    bjOssssssssssss

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  2. Gracias mi amiga argentina y reservense!!
    Fico super feliz com seu comentário e pelo elogio!!

    Beijos

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  3. Olá André, também sou psicóloga, sigo a abordagem junguiana e estou fazendo mestrado em Psicologia Clinica na Puc/SP em estudos junguianos. estou escrevendo na minha dissertação sobre a síndrome do ninho vazio, com certeza usarei seu texto, estava procurando associações com a teoria que vc colocou muito bem, vc tem mais alguma bibliografia sobre esse assunto? podemos ir trocando ideias? Gostei muito do seu texto. meu email pessoal é tatianalimaf@gmail.com, até...

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  4. Olá Tatiana;
    Na verdade, não tenho nenhuma bibliografia sobre o assunto. Escrevo pela prática clínica e pelas associações feitas nos estudos junguianos. Mas sem dúvida, podemos trocar algumas informações. REsponderei pelo seu email também, ok?

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