quarta-feira, 17 de abril de 2013

O valor do medo


Muito temos conversado, lido e estudado sobre a ansiedade. O numero de queixas no consultório tem aumentado com relação aos transtornos ansiosos.

É preciso lembrar que a ansiedade tem como base da fantasia dos sintomas o sentimento do medo. Com o medo vem o desejo de fugir, ficar imobilizado ou lutar diante do que nos amedronta. O termo pânico é muito usado para expressar esse sentimento. E mais e mais a luta contra o medo aumenta. O desejo de não sentir mais medo, de ter a coragem como único sentimento é a fala predominante nas sessões de psicoterapia.

Porém, qual a função do medo? Será que não podemos aprender algo com esse sentimento?

O medo nos limita e quando limitados, impedidos de agir pelo impulso, nos vemos obrigados a racionalizar. O medo faz com que tenhamos que nos livrar do que nos amedronta, porém como é urgente, usamos do impulso para nos livrarmos desse medo, usando de uma saída que esteja mais ao alcance. Mas quando nos detemos diante desse sentimento, pensar, racionalizar se torna uma saída obrigatória e geralmente mais interessante, pois quando racionalizamos, aprendemos mais sobre nossas capacidades, nossos limites. Nos descobrimos!

Vejam um exemplo: Uma pessoa com medo de ficar detida em um congestionamento, queixa cada vez mais comum no consultório, quando percebe-se em uma situação dessa, entende que a melhor saída é acelerar o carro e sair logo dessa aglomeração que impede a chegada ao lugar que deseja. Ou, como relatam alguns pacientes, deseja sair do carro e ir a pé. Mas como nenhuma das duas soluções é possível, pois o congestionamento não permite acelerar e não posso abandonar o carro e sair a pé, o que fazer então? Nessas horas os sintomas ansiosos aparecem e o medo torna-se crescente.

Trabalho com os pacientes a racionalização, ou seja, o que poderá acontecer se ficar preso no transito? Por que tenho que sair correndo? Por que ficar parado será um atraso em minha vida e me causaria desespero? Quando essas perguntas são respondidas, percebem os pacientes de que não há necessidade de atitudes impulsivas, mas sim de calma (com algumas técnicas de respiração) e reflexão, para poder conhecer mais de si mesmo. Aprender sobre o medo e não simplesmente correr dele é a forma melhor para poder lidar com esse sentimento. O medo, é como um sinal de alerta de que algo está errado, e as ações tem que ser melhor elaboradas. É o momento de repensar algumas atitudes e trilhar caminhos diferentes.

O pensar tem a função de bloquear atitudes impulsivas e barrar o medo. Nesse caso, o medo se torna aliado, impedindo as ações impulsivas e se tornando um instrumento de auto conhecimento.

 

Um comentário:

  1. Gostei muito do artigo. Suscinto e muito objetivo. Acompanhei sua participação no programa do Pe. Reginaldo Manzotti e aprendi muito. Obrigado.

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